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CARTA ABERTA À SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO DE VOLTA REDONDA
Prezada Professora e Secretária Municipal de Educação de Volta Redonda, Rita de Cássia Oliveira de Andrade "Inicio esta carta aberta me apresentando a você, uma vez que não nos conhecemos pessoalmente. Meu nome é Luiz Fernando e sou professor de Ciências e Biologia, concursado da Fundação Educacional de Volta Redonda (FEVRE), onde há 13 anos tenho o privilégio de lecionar em uma escola que tem alma, onde alunos e professores exercem por hábito sua criticidade, e da qual me orgulho de fazer parte do corpo docente. Essa escola se chama João XXIII!
Uma das coisas que mais realiza em minha atuação como professor é a possibilidade de ensinar e ao mesmo tempo aprender com meus alunos em uma relação de convívio semanal nas aulas de Biologia do Ensino Médio e de Ciências do 9o ano do Ensino Fundamental. Durante essas aulas que se alternam entre aulas expositivas, exibição de filmes, defesa de seminários, estudos dirigidos, júri simulado e provas que tento contextualizar o conteúdo de biologia com a realidade de meus alunos, de modo que a parte teórica apreendida em sala de aula possa ser percebida no cotidiano deles e assim, permitam que eles possam ser agentes de transformação em suas comunidades. Infelizmente, devido à pandemia mundial do coronavírus, essa convivência semanal não pode ser feita de maneira presencial como tem sido todos esses anos.
No dia 21 de maio de 2020, assisti a entrevista que a senhora deu no RJTV sobre a plataforma e fiquei espantado com três questões que irei enumerar abaixo.
1) A Capacitação de 190 horas: Gostaria de saber que capacitação foi essa? Se eu a fiz gostaria de ter meu certificado. Infelizmente, isso não será possível por uma razão simples: ela não ocorreu. Vamos a uma conta simples que não fecha: O professor da FEVRE, que é o meu caso e que tem uma carga horária de 24 aulas (em sala de aula) necessitaria de um tempo equivalente a aproximadamente 8 semanas (ou quase 2 meses). Como as aulas foram suspensas em 13 de março devido à pandemia, podemos dizer que o treinamento teria terminado a 6 dias, ou seja, com a plataforma já estando em operação a pelo menos 1 mês. Isso se o professor não estivesse dando aula on line e preparando suas aulas on line no estado e/ou em escolas particulares. Se o professor for da SME esse tempo quase que dobraria e eles ainda estariam realizando a capacitação. Apenas para efeito de comparação uma pós-graduação lactu sensu (especialização) tem no mínimo 360 horas. Pela sua fala da à entender que realizamos mais da metade de uma especialização, o que eu gostaria que realmente tivesse acontecido, pois isso acrescentaria muito em minha formação profissional. 2) Funcionalidade da Plataforma: Inicialmente gostaria de perguntar a razão da escolha da plataforma Conectedu, que é uma plataforma paga, e, segundo informações de um vídeo de autoria do vereador Jari tem custado R$ 1,7 milhões por mês aos cofres públicos, quando poderia ser usado de forma gratuita o Google Classroom da Google como tem feito a rede estadual. Outro ponto importante a ser questionado é o fato do motivo pelo qual professores, alunos, diretores, orientadores não puderam ser ouvidos nesse processo. Qual a razão de não ter sido feita uma simples consulta aos docentes sobre que ferramentas a plataforma deveria ter para que atendesse as demandas dos professores e alunos? 3) Avaliação On Line: Segundo Paulo Freire, o patrono da educação brasileira e o brasileiro mais citado no mundo em artigos relacionados a educação, não podemos ter uma educação como ele mesmo denominava “bancária”, onde nós professores jogamos conteúdo e ao final do bimestre retiramos um “extrato” do que foi retido pelo aluno na forma de uma prova. Infelizmente, eu e muitos dos meus colegas, por diversas vezes nos sentimos falando para as paredes no chat devido ao pequeno número de alunos que têm interagindo conosco e que acessam a plataforma. Quero ressaltar que muitos dos nossos alunos estão com problemas para acessá-la por não terem acesso a internet e/ou por não conseguirem se logar. Por essa razão não podemos falar em desinteresse por parte deles. Muitos tentam, mas, não conseguem acessar ao chat. Aí eu pergunto a senhora como avaliar de forma justa esses alunos em uma plataforma que simplesmente não tem funcionado como deveria? Por fim, gostaria de deixar claro para a senhora e para todos que tiverem acesso a essa carta que não sou contra o ensino a distância. Eu mesmo já fiz vários cursos de qualidade de forma on line que contribuíram muito para minha formação docente. Porém, é preciso ter em mente que um curso on line é bem diferente de um curso presencial e requer um planejamento e principalmente uma estrutura que possa permitir a interação entre alunos e professores de modo que todas as dúvidas dos educandos possam ser sanadas e de fato ocorra uma aprendizagem significativa. O melhor exemplo do que estou falando é o CEDERJ que oferece cursos a distância de aperfeiçoamento para professores e de graduação com maestria. Para que um planejamento seja eficiente, creio que as partes envolvidas (docentes e discentes) deveriam ter sido pelo menos consultados, o que infelizmente não aconteceu. A decisão foi tomada de cima para baixo onde em uma live o prefeito anunciou que a educação seria on line, por meio de uma plataforma sem que houvesse uma pesquisa prévia entre professores e alunos para saber quais são as suas condições de acesso a mesma.
Sobre essa questão é de suma importância ressaltar que os professores da rede municipal estão há 5 anos sem reposição salarial (não é aumento salarial, é apenas a reposição da inflação anual para que o trabalhador não perca o seu poder de compra), que o município não paga o piso salarial ao professor que foi estabelecido em 2011. Os professores recebem abaixo do piso nacional o que com certeza acarreta dificuldades no acesso a computadores, internet banda larga, e web can e microfones de qualidade. Obviamente, todas essas dificuldades, além da falta de uma formação específica e do desconforto que muitos tem em se colocar a frente de uma câmera e gravar uma aula (isso precisa ser respeitado pois vai da individualidade de cada um) se reflete muitas das vezes em aulas de baixa qualidade de áudio e vídeo e até mesmo no processo de preparação do material.
Sinceramente, acredito que a senhora como professora, não tenha tido a intenção, mas da forma como sua fala foi colocada na entrevista desqualifica todo o empenho e sacrifício que os professores estão fazendo para amparar nossos estudantes nesse momento crítico, em que nossa única preocupação, assim como as dos nossos alunos e seus familiares deveria ser apenas sobreviver a essa difícil situação que mostra toda nossa vulnerabilidade diante de um vírus que ameaça milhões de vidas em todo o mundo. Atenciosamente, * Luiz Fernando Duarte de Figueiredo
PROFESSOR Especialista em Planejamento e Gestão Ambiental, em Educação Ambiental e Metodologia do Ensino de Biologia e Química.
Mestre em Ensino de Biologia
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