URBANISMO E EVOLUÇÃO DAS CIDADES: 'O SURGIMENTO E CRESCIMENTO DE VOLTA REDONDA'
- Ronaldo Alves - Opinião
- 6 de jul. de 2021
- 3 min de leitura
RONALDO ALVES*
Semana passada abordamos aqui o Conceito de Urbanização e a evolução das cidades, mostrando o papel da ECONOMIA no desenvolvimento das mesmas e na formação da Urbis (área urbana ou cidade propriamente dita). Hoje, vamos iniciar a análise do processo de formação e crescimento de uma das mais importantes cidades de porte médio da nossa região e até do País: VOLTA REDONDA.
A Cidade do Aço nasceu em função da escolha do seu território como o mais estratégico por se situar uma Siderúrgica no centro do triângulo Rio – São Paulo – Minas, à época os 3 mais importantes centros econômicos do país e os maiores consumidores e transformadores do aço produzido sob as formas de chapas, trilhos, perfis e folhas de flandres, àquela época ainda importados. O território ficava no Município de Barra Mansa, contendo uma infraestrutura logística incomparável tal como a Rodovia Rio – São Paulo e a Ferrovia EFCB – Estrada de Ferro Central do Brasil, mais tarde RFFSA - Rede Ferroviária Federal, além de ligações com o Porto de Angra dos Reis e com o eixo Juiz de Fora – Belo Horizonte. As conexões citadas favoreciam o abastecimento de minério de Ferro vindo de Minas Gerais e do carvão vegetal vindo de Santa Catarina pelos Portos do Rio e, pouco depois, de Sepetiba. Além disso havia a o manancial do Rio Paraíba do Sul, capaz de sustentar o abastecimento de agua crua muito importante no processo de produção do aço.
A Usina ocuparia um amplo espaço plano preparado, com cerca de 3 milhões de m2 com uma planta industrial trazida dos EUA, inclusive maquinário e equipamentos.
Tal implantação demandou uma imigração de mão de obra para ser treinada na operação da usina, principalmente de Minas Gerais, de onde existia uma grande quantidade de metalúrgicas e fundições, atividades essas muito similares ao objeto da grande Siderúrgica.
Aí vemos mais uma vez o papel da ECONOMIA no surgimento de uma grande Urbis, que iria se sobressair e se transformar num entre mais importante economicamente que sua cidade mãe, Barra Mansa, que seria plenamente superada pela nova instalação em seu território, do Complexo Produtivo Siderúrgica Nacional.
Era uma iniciativa Estatal que se implantava não somente na unidade fabril, mas também no aspecto do domínio territorial que incluía inclusive uma reserva Florestal.
Para atender com mais eficiência e natural proximidade as funções de trabalhar, morar, circular, recrear e se desenvolver, foi projetada e implantada uma Vila operária integrada, completamente autossuficiente nas funções urbanas, para abrigar as famílias dos operários, técnicos, engenheiros e até de dirigentes da Empresa, divididos em bairros residenciais e centros comerciais, onde se destacariam o viés hierárquico e a condição sócio econômica, inclusive no modelo de habitação oferecida.
Essa cidade implantada como uma das duas únicas projetadas existentes no País à época, junto com Belo Horizonte e mais tarde Goiânia, todas antes de Brasília, foram projetadas por um mesmo arquiteto e Urbanista, Atílio Coreia Lima.
A característica principal dessa Vila de Santa Cecília em Volta Redonda era a de ser administrada por um Departamento da CSN por meio de quem eram feitas as manutenções de ruas, energia elétrica, abastecimento de água, sinalização viária, educação, saúde e até vigilância e segurança. Moravam de graça e só pagavam as contas de agua e luz. Condições que desenvolveram nos moradores o sentimento de acolhimento, posse, sustentação e paternalismo estatal, fatores que, mais tarde, contribuíram para a negação do processo de privatização e entrega da administração urbana ao poder público municipal como todo o restante da cidade.
Ao longo desse processo de transição, uma outra cidade cresceu ao entorno da Usina da CSN, fomentada pela economia que o complexo Siderúrgico proporcionou, mediante a força dos negócios e da atratividade dos mesmos. As atividades comerciais cresceram num ritmo fantástico gerando uma malha urbana bastante extensa com novos loteamentos e criação de centralidades impostas pela geografia do território. Com isso surgiram movimentos e problemas nas áreas de transportes coletivos, educação, saúde e abastecimento de toda natureza.
À margem disso, as necessidades de controle físico – urbano e planejamento do crescimento foram surgindo, aparecendo a necessidade de instrumentalizar no âmbito público essa atividade.
Aí começa nossa abordagem da próxima semana: O PLANO DIRETOR COMO FERRAMENTA DE ORDENAÇÃO CONTROLE DO CRESCIMENTO URBANO.
* Ronaldo Alves é arquiteto e urbanista
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