top of page

OPINIÃO

Foto: Divulgação

VALÉRIO ARCARY *

A avalanche destas eleições foi devastadora. A discussão sobre o caráter neofascista de Bolsonaro não é, portanto, um debate bizantino. Por que é tão difícil para alguns na esquerda marxista reconhecer que Bolsonaro é neofascista? O esquema teórico da ultra-esquerda que interpreta que o Brasil está em uma ininterrupta situação pré-revolucionária desde 2013 exige, para que tenha coesão interna, a conclusão de que que não houve derrota alguma em 2014/15/16. O impeachment não teria sido um golpe institucional. As mobilizações lideradas pelo MBL/Bolsonaro não seriam reacionárias. Haveria algo progressivo nas multidões que foram às ruas pelo Fora Dilma: a Lava Jato e a luta contra a corrupção. Logo, Bolsonaro não seria um neofascista. Seria um líder de uma nova direita populista, ou um Trump tropical disputando as "ruínas" de uma crise terminal da influência do PT. Isso não é correto, mas tem coerência. É falso, mas é aristotélico. Não fosse o bastante precisa da conclusão que há uma polarização social, afinal a situação seria pré-revolucionária. Logo, se a esquerda radical tivesse disputado, com a bandeira anti-corrupção a liderança do mal estar social, Bolsonaro não teria crescido. A esquerda revolucionária teria se fortalecido. Acontece que esta análise não se sustenta de pé um minuto. Porque foi exatamente isso que uma parcela da ultra-esquerda fez, e o resultado foi um isolamento polar, glacial, siberiano, um desastre ferroviário. Polarização social acontece quando as duas classe sociais fundamentais, os dois polos, capital e trabalho, medem suas forças, e prevalece um equilíbrio instável, uma equivalência. Nem o capital consegue avançar e impor os seus planos, nem a classe trabalhadora consegue colocar o capital na defensiva. Evidentemente, não é essa a situação. Portanto, se for corrigida a caracterização de Bolsonaro, e admitido que ele é um neofascista, o esquema teórico inteiro desmorona. Daí a obtusa teimosia em se recusar a ver o monstro como ele é. Acontece que esse esquema se demonstrou errado. Oxalá estivesse certo. O impulso progressivo que existia em Junho de 2013 foi interrompido, derrotado. Infelizmente, não há polarização social, somente eleitoral. A classe dominante está na ofensiva. A classe média girou à direita. A classe trabalhadora permanece na defensiva. Surgiu uma corrente eleitoral de massas ultra-reacionária, que tem um núcleo fascistizante na pequena-burguesia. Uma avalanche de neve reacionária descendo a montanha e arrastando setores populares. Liderada por um neofascista. Nada é mais importante que lutar contra Bolsonaro, frontalmente, neste segundo turno. Com ideias, esperanças, argumentos, mobilizações, com tudo. Quem alerta que teremos que nos preparar para o pior, e que portanto, se sente inseguro não está errado. Autodefesa será necessária. Mas a luta política tem os seus tempos. Depois é depois. Ainda há tempo de evitar o pior. Para isso é preciso votar Haddad. E lutar para ganhar votos. Com a mão no nariz, se quiserem.

* Valério Arcary é professor titular aposentado do IFSP onde trabalhou entre 1988 e 2014. É historiador marxista e ex-militante do PSTU e agora membro e fundador do MAIS - MOVIMENTO POR UMA ALTERNATIVA INDEPENDENTE E SOCIALISTA, uma ruptura nacional do PSTU.

As opiniões expressas neste texto são exclusivas de seu autor e não representam necessariamente as opiniões do conselho editorial do website jornalístico 'GAZETA DOS BAIRROS'.

Anúncio Geleias.jpg

Postagens Recentes

® Copyright
bottom of page